Projeto Ministério Público do Trabalho
PROJETO RESGATE A INFÂNCIA – EIXO EDUCAÇÃO
PRÊMIO MPT NA ESCOLA
“A ESCOLA NO COMBATE AO TRABALHO INFANTIL”
ANO 2019
Vinte e quatro municípios participaram da disputa. Os ganhadores representarão o estado de São Paulo no prêmio nacional
A representação da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes (Coordinfância) na 15ª Região divulgou, nessa sexta-feira (13/09), os ganhadores da etapa regional do Prêmio MPT na Escola 2019.
Participaram da disputa alunos de Ensino Fundamental de 24 municípios do interior do Estado de São Paulo. Os estudantes concorreram em 5 categorias – melhores contos, curtas-metragens, músicas, desenhos e poesias sobre o combate ao trabalho infantil – divididos em dois grupos – o primeiro, para alunos de 4º e 5º ano e o segundo, para 6º e 7º ano.
O júri que elegeu os melhores trabalhos foi composto pelos procuradores Carolina Marzola Hirata Zedes, Fábio Messias Vieira e Paulo Crestana. Todos os trabalhos apresentados tiveram como tema o fortalecimento da infância, os prejuízos decorrentes do trabalho infantil e a aprendizagem profissional, uma importante ferramenta de formação profissional e proteção ao trabalho do jovem.
A cerimônia de premiação da etapa regional será realizada na sede do MPT Campinas, mas ainda não há data confirmada. Os vencedores participarão da etapa nacional, representando o Estado de São Paulo.
O Ministério Público do Trabalho em Campinas agradece e parabeniza todos os participantes pelo envolvimento e engajamento nos trabalhos desenvolvidos e reforça que a premiação dos primeiros classificados é simbólica, pois todos são reconhecidos como vencedores ao alcançar o objetivo de levar a temática para tantas crianças e adolescentes.
VENCEDOR
6º e 7º anos
Sonhos Adiados
José tinha uma vida muito amarga e triste. Órfão de pai, cuidava da mãe doente e de seu irmãozinho Breno. Com apenas nove anos, já sabia o que era responsabilidade e fome.
Mas como na vida as surpresas sempre vêm, sua mãe muito debilitada, faleceu, deixando-os com o tio que, com filhos e família para sustentar, mal conseguia zelar pelos irmãos.
Não sobrou outra opção para José sem ser trabalhar no corte de cana como fazia o tio.
Levantava de madrugada, preparava o irmão e, de estômago quase vazio, esperavam o caminhão que os levava ao trabalho junto com outros tantos, retornando quando já anoitecia.
No canavial, como ele era magro e fraquinho, ficava com a missão de limpar o talho da planta, retirando as folhas extremamente cortantes que machucavam sua pele e suas mãos.
Como percebia que aquele trabalho era perigoso e bruto, deixava o irmão debaixo de alguma árvore distante para protegê-lo. Breno passava o dia sozinho se distraindo com pedrinhas, insetos, raízes e terra, improvisando brinquedos e brincadeiras às quais nunca teve acesso.
José, por vezes, parava com o serviço e ficava olhando o irmão, pensando como seria diferente e feliz a vida se pudessem estar frequentando uma escola, provando uma merenda quentinha e cheirosa e aprendendo a ler e escrever como as crianças que conhecia.
Mal sabia rabiscar o nome e somar, então, jamais aprendera. Quanto a saber o valor do seu pagamento, era algo que não conseguia compreender e, por isso, contentava-se com o dinheiro que lhe davam, deixando tudo aos cuidados do tio para comprar alguma comida e poucas peças de roupa para não passarem muito frio.
O trabalho era duro e arriscado, pois estava a toda hora lidando com facões afiados e pesados debaixo de sol forte em meio a fumaça da queimada feita no que restava da colheita.
Embora sendo apenas uma criança, preocupava-se muito e não queria aquela vida para eles.
Fome, frio, medo, dor, sede, tristeza eram sentimentos que acompanhavam José e o pequenino Breno desde muito cedo.
Livros, bola, cadernos, doces, amigos, escola, sorrisos, brinquedos, abraços, pertenciam a um mundo que não havia sido feito para eles, supunham.
E a vida, traiçoeira, novamente assusta José.
Ao sair do meio da plantação, numa manhã, percebeu uma fumaça negra vindo de um canto do terreno e, lembrando-se que Breno estava naquela direção, correu o mais que pôde, avistando o irmão desacordado, caído no chão.
Desesperado, carregou-o nos braços e, chorando muito, tentou socorrê-lo, porém, como havia inalado muita fumaça, caiu desmaiado sobre o irmão.
Quando retomou a consciência, estava em uma cama de hospital e Breno o abraçava forte.
Havia chegado, enfim, a hora de serem felizes.
José recebeu a notícia por Cláudia, assistente social, que seu tio liberou os dois para adoção e que uma família carinhosa e prestativa, cujo filho havia falecido, esperava-os para que, juntos, construíssem uma nova vida recheada de amor, respeito, companheirismo, segurança, acolhimento como sempre sonharam.
Agora sim, José poderia ser criança de verdade, com lar, escola, educação, compreensão, tranquilidade e inocência como toda criança tem direito.
Orientadora do trabalho
Professora Vera Rampazzo
Equipe Basilio Consoline