Olimpíada de Língua Portuguesa

6ª edição – 2019

A Olimpíada de Língua Portuguesa é um concurso de produção de textos para alunos de escolas públicas de todo o país. Iniciativa do Ministério da Educação e do Itaú Social, com coordenação técnica do CENPEC, a Olimpíada integra as ações desenvolvidas pelo Programa Escrevendo o Futuro.

O tema das produções é “O lugar onde vivo”, que propicia aos alunos estreitar vínculos com a comunidade e aprofundar o conhecimento sobre a realidade local, contribuindo para o desenvolvimento de sua cidadania.

Participam da edição deste ano mais de 42 mil escolas de 4.900 municípios nas categorias:

ENSINO FUNDAMENTAL

Poema

5º ano

Memórias Literárias

6º e 7º anos

Crônica

8º e 9º anos

ENSINO MÉDIO

Documentário

1º e 2º anos

Artigo de Opinião

3º ano

Foram classificadas 443 produções semifinalistas de todo o Brasil. Cada um dos 26 estados mais o Distrito Federal contará com vagas garantidas na Etapa Semifinal.

Da cidade de Itatiba, na categoria Memórias Literárias, o texto selecionado foi:

DOCES LEMBRANÇAS

Lembro-me tão bem. Tinha oito anos e meu pai, lavrador, mas quase professor antigamente, explicava aos meus irmãos e a mim seus valores e vivências de quando jovem.

Ficávamos fascinados com suas histórias. Acontecimentos, detalhes, sonhos, crenças tomavam corpo, adquiriam importância imensa em sua fala. Éramos felizes e nos sentíamos protegidos.

Como o dinheiro era escasso, deitávamos cedo para pouparmos querosene do lampião, uma vez que não havia energia elétrica em nossa casa.

Durante a semana, acordávamos muito cedo – com o cantar do galo, como se dizia – e íamos para a lavoura no plantio e colheita de feijão. Papai contava com o esforço de cada um para nosso sustento, embora isso o corroesse, pois sonhara com livros e conhecimento escolar para os filhos. Talvez por isso, nunca desistia de nos manter sonhadores como ele.

O trabalho era exaustivo, pois ficávamos na plantação misturados à terra, sementes, relva, sol e cheiros por todo o dia, mas sabíamos que somente juntos, teríamos algo melhor.

Atrás de casa havia um terreiro grande onde colocávamos os ramos colhidos do feijão com bainhas carregadas de grãos que necessitavam ficar expostos ao sol para secarem e, mais tarde, serem malhados com varas de bambu, abanados, ensacados e vendidos.

Nosso cenário se limitava a trilhas com verdes ramagens, pássaros traiçoeiros que atacavam a plantação, entusiasmados em suas cantorias.

Próximo à nossa casa, havia um córrego de onde tirávamos água para regar a horta de mamãe e seu jardim, com roseiras, dálias e margaridas que, em Finados, serviam para homenagear os mortos da família.

Eu adorava aquele cantinho com beija-flor e borboletas voando como minhas fantasias e como minha saia feita de chita ao brincar de amarelinha e pega-pega com as crianças.

Aos sábados, papai nos acomodava em sua carroça entre sacos de feijão que eram levados ao armazém de Secos e Molhados de nossa cidade, Itatiba – a Princesinha da Colina – como é conhecida, aqui em São Paulo.

Como morávamos distante do centro, o trajeto era longo e desajeitado, contando com buracos e pedregulhos soltos na estrada. Momentos inesquecíveis ao seguirmos atrás de boiadas e boiadeiros que, ao som de berrantes, conduziam os animais ao matadouro que ficava num bairro por onde passávamos.

Na estrada havia enormes eucaliptos e papai nos dizia que se pareciam com soldados do exército que ele vira na rua. Com olhar ingênuo, realmente, identificávamos a semelhança descrita.

Já na cidade, grudávamos à barra da saia de nossa mãe, envergonhados e com medo de nos perder. Horas se passavam até que os sacos fossem descarregados e trocados pela lista de compra do mês que meus pais preparavam.

Ao voltarmos, íamos nadar no lago do vizinho e brincávamos de mergulhar e nos esconder debaixo da água. Nem víamos perigo naquilo.

À tardezinha, depois do jantar, sentados na soleira da porta, ouvíamos novela no rádio antigo de meu avô. Pouco entendíamos da história, mas não havia diversão melhor e mais rica.

No domingo, ao escutarmos o sino da igreja, que ficava não tão longe de casa, badalando e chamando os fiéis para a missa, minha mãe nos trocava com roupa de festa, muito simples, porém o que tínhamos de melhor, e caminhávamos pela estrada cheia de pó, para as orações. Por vezes, levávamos carreirão de cachorros e era um susto e tanto.

Com o passar do tempo, muitos de nós já fora da idade escolar, fomos matriculados na escola do bairro, onde as aulas aconteciam em uma única sala, dividida em fileiras de acordo com a série, sendo a professora uma só para todos, assim como a lousa.

Tempos depois, minha mãe adoeceu e nos mudamos para a capital em busca de tratamento médico.

Lá, vivendo entre paredões de concreto, percebi quanto o meu pedacinho de terra me fazia falta. Cheiro de mato, barulho do vento, nuvens e céu pertinho de mim ficaram para traz.

Hoje sei o que papai sentia ao nos trazer suas vivências, sonhos e valores de fatos e lugares onde viveu e eu, distante no tempo daquele cenário apaixonante onde vivi tão puramente, trago à memória algo que não pode voltar, embora possa reviver em cada lembrança que, docemente, insiste em não se apagar.

Texto baseado em entrevista com a senhora

Antoninha Leolina da Silva, minha avó.

Parabéns, JOÃO!

Saiba: você não representa somente o 7º Ano “B”.

Você, por DOIS ANOS CONSECUTIVOS, está a representar a escola Basílio Consoline, a cidade de Itatiba e a região de Campinas junto ao Ministério Público do Trabalho em campanha contra o trabalho infantil, sendo o vencedor.

Também na Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa 2019, você não só representa a nossa escola, como a cidade de Itatiba com o gênero textual Memórias Literárias na fase estadual do concurso, aguardando a fase nacional.

VOCÊ é motivo de orgulho indescritível.

Como dizia um sábio:

“Para ensinarmos um aluno a inventar, precisamos mostrar-lhe que ele já possui a capacidade de descobrir”.

E assim é feito com você.

Sucesso, Nosso Garoto! Você representa o melhor de todos nós.

Professora Vera Rampazzo

Orientadora do trabalho

Equipe Basílio Consoline.